Nascimento
✮ 15 de julho de 2009
Falecimento
† 17 de abril de 2025
Donatello não era apenas um gato. Ele era uma presença. Um companheiro atento, exigente e profundamente carinhoso. Seu jeito único de se comunicar e de ocupar os espaços da casa o transformaram em uma figura central na rotina e na vida de quem teve o privilégio de conviver com ele.
Amava o conforto. Lençóis recém-esticados, mantas macias e cobertores sempre foram seus territórios preferidos. Dormir era quase um ritual: muitas vezes em cima de mim ou bem ao lado, como quem diz silenciosamente que o amor também se mede pela proximidade. Sua cadeira favorita na cozinha e a poltrona do escritório eram como tronos – locais de onde observava, descansava e comandava sua casa.
Donatello tinha gostos muito particulares. Sua ração fazia parte do cardápio, mas o verdadeiro deleite vinha mesmo com churu e atum. Entre seus brinquedos, ele dispensava os mais elaborados: era feliz com bolinhas feitas de sacola plástica, arames de pão e, é claro, o irresistível ponto de luz de um laser.
E por falar em comunicação, Donatello tinha um jeito só dele de "falar". Não era de miados tradicionais. Sua forma de se expressar era através de meio-miados, gestos com a boca e, principalmente, com o olhar. Bastava um olhar, um pequeno movimento, e todos entendiam exatamente o que ele queria – e, verdade seja dita, quase sempre conseguia.
Atendia ao seu nome, mas também respondia ao som de um beijo. Sabia de cor as rotinas da casa e gostava de segui-las. Adorava estar ao ar livre, cheirar tudo ao redor e, se caísse uma garoa, não via problema algum. No frio, procurava o sol. No calor, buscava o chão gelado ou até mesmo a pia do banheiro, sempre em busca de conforto e frescor.
Com cerca de dois anos, Donatello decidiu que Monalisa, recém-chegada, seria parte de sua vida. Foi ele quem a "adotou", no seu próprio tempo e do seu próprio jeito. Anos mais tarde, já com 14 anos, viu-se diante da energia de uma nova filhote, a Cuca. Entre brincadeiras e ensinamentos, foi com paciência e autoridade que Donatello a educou e lhe mostrou os limites da convivência felina.
Tinha manias engraçadas. Gostava de comer grama – e, inevitavelmente, depois vomitava. Amava ser escovado, recebendo o carinho com os olhos semicerrados, como quem agradecia em silêncio. Gostava de beber água fresca, e se fosse da torneira, melhor ainda.
Com sua personalidade forte, era ao mesmo tempo autoritário e extremamente afetuoso. Todos o respeitavam: humanos e outros gatos. Gostava de visitas, mas sair de casa nunca foi sua praia. Preferia o seu mundo, com seus cheiros, seus lugares favoritos e as pessoas que amava.
Havia ainda uma sensibilidade intelectual em Donatello. Gostava de me ouvir lendo em voz alta. Muitas vezes, deitava sobre o próprio livro que eu estava lendo, como quem queria fazer parte daquela história. Tinha preferência por certos autores: adorava Carl Sagan, Cícero e o Ramayana… mas, de forma curiosa, nunca foi muito fã dos escritores gregos.
Gostava dos reflexos de luz, gostava da noite… e, acima de tudo, gostava de estar perto.
Donatello foi o tipo de ser que, mesmo em silêncio, dizia tudo. Um amigo leal, um mestre das pequenas alegrias, um companheiro de jornada.
E assim será sempre lembrado: como o grande amor felino da casa.